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Candura: Histórias Capturadas pelo Olhar de Ana Carolina Fernandes

Lais Lobo
Candura: Histórias Capturadas pelo Olhar de Ana Carolina Fernandes

Reinventar-se profissionalmente é uma característica da fotojornalista e fotógrafa Ana Carolina Fernandes.  

Natural do Rio de Janeiro, ela cresceu recebendo influências de familiares fotógrafos e jornalistas, incluindo o avô e o pai. Mas engana-se quem pensa que esse tenha sido o fator determinante na escolha de carreira de Ana Carolina.  

“Não foi algo que me veio na infância. Porque, tem gente que com 10, 12 anos já sabe, né? Mas, para mim, a certeza veio quando fui fazer o vestibular. Eu até pensei em jornalismo, porque na minha família tem vários jornalistas, então seria até natural. Mas não, eu decidi que queria ser fotógrafa”, comenta. 

Em 1984, aos 19 anos, deu início à sua carreira de fotojornalista no jornal O Globo. Três anos depois, seu destino de trabalho a levou para Brasília, onde passou pelo Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, Agência Estado, entre outros. Colecionando tantos momentos marcantes na carreira, Ana Carolina conta a história por trás da foto que resultou em um Prêmio Folha, na categoria “Melhor Foto do Ano”, em 2002. 

“Tem uma foto que é muito forte. Ela rendeu um prêmio, mas não é a minha foto preferida, porque é muito triste.  

Aconteceu em fevereiro de 2002, mais um dia de operação policial em uma comunidade na Ilha do Governador, e eu fui escalada para cobrir aquela pauta A gente chegou no local, nessa época só se subia com a polícia, então subimos atrás deles, naquele calor extremo do Rio de Janeiro. Estávamos todos lá, fotógrafos, imprensa, já cansados de realizar a cobertura e decididos a ir embora. Naquele momento, acreditávamos não ter mais material para extrair da notícia; sempre combinamos de ir embora, ninguém ‘furava’ ninguém.  

Chegou um homem, eu não recordo de onde era, ou se fazia parte de alguma associação de moradores, mas ele veio e falou com meus colegas e comigo: “olha, vocês precisam vir aqui, vocês precisam ver a frente da minha casa!” Nós fomos e, quando chegamos lá, ele pegou na mão diversos cartuchos de bala de fuzil. Eram muitos cartuchos, muitos. Então, esse morador jogou tudo no chão e começou a conversar com a imprensa, dar entrevistas.  

De repente, eu olho para o lado e vejo crianças que, visivelmente, não sabiam ler nem escrever, com chupeta na boca. Provavelmente, deviam ter 2 ou 3 anos, e elas estavam empilhando os cartuchos, escrevendo com eles no chão a sigla da facção. Aquela cena me deixou muito triste; eram crianças muito pequenas, não sabiam o que aquilo significava. Mas nós sabíamos o peso daquela situação.” 

Desde 2008, Ana Carolina Fernandes dedica-se a projetos fotográficos pessoais, unindo o jornalismo diário com o documental e priorizando a humanização das relações, bem como o registro de momentos únicos das pessoas. Quase 40 anos de profissão, movidos pelo desejo de capturar imagens que revelam a candura, mesmo em cenários difíceis. 

Fotojornalista: Ana Carolina Fernandes

Instagram: https://www.instagram.com/culafernandes/

Escrito por Eduarda Ferreira